sábado, 21 de janeiro de 2012

OS DESCASADOS

Hoje muito se fala em reciclagem. A latinha usada vira outra latinha ou uma bolsa futurista. A garrafa pet vira uma árvore de natal no fim de ano. O papel reciclado é produto de papéis que nem quero saber por onde passaram e a vida continua. Sem querer nos comparar a garrafas pet da Coca-Cola, cá estamos nós, pessoas politicamente corretas, sendo fiéis ao que Lavoisier um dia, majestosamente, afirmou: “Na natureza nada se perde, nada se cria; tudo se transforma”. Lavoisier era um tiozinho sábio!
As pessoas casam. Sim, as pessoas casam. Fazem listas de convidados, contratam buffet, encomendam bolo, trocam alianças de dedo. Vão para a lua de mel, se endividam até as orelhas, fazem dieta para caber nas roupas, porque comeram demais nas degustações do buffet do casamento. No dia da cerimônia, não comem nada e ainda saem em um carro besuntado de pasta de dente com latinhas penduradas no para-choque (tá vendo? Até no casamento as pessoas se preocupam com a reciclagem!). Momento único! Todo mundo que casa (pela primeira vez) diz que vale a pena cada centavo gasto na cerimônia e nada mais otimista ou assustador que ouvir o padre, pastor ou juiz dizer a célebre frase: – “Até que a morte os separe!” (e todos dizem que neste momento é ouvido o som tenebroso de um Órgão ao longe).
Assustados ou motivados com a sentença (e sentença neste caso pode ser entendida de duas formas: ou uma frase ou um castigo), os noivos saem felizes, contentes e saltitantes para a promessa edênica de uma vida a dois. O tempo passa e os caminhos se bifurcam. Há os casais que realmente, por perseverança ou por amor em doses extras, vivem juntos até o fim de suas vidas, quando um morre do coração e o outro de cirrose. Há outros casais, no entanto, que acabam a história bem antes do infarto fulminante ou da bebedeira excessiva, ao som de Maísa, que sempre repete que seu mundo caiu.
Não há pessoas mais politicamente corretas que os descasados. Os descasados fazem parte de uma raça evoluída, necessária para a manutenção da espécie humana. Os descasados geram renda para os advogados e trabalho para os juízes; aquecem o mercado imobiliário, seja o de venda ou locação de imóveis; aquecem o mercado de móveis, eletrodomésticos, automóveis (já que um dos cônjuges sempre acaba ficando com o carro do casal); fazem a festa das clínicas de estética, salões de beleza, de terapeutas e afins, por fim aquecem também a indústria farmacêutica, que nunca deve ter vendido tanto ansiolítico e antidepressivo como ultimamente.
Depois de listar todas as possíveis benfeitorias que um descasado (a) apresenta à sociedade, não poderia deixar de destacar a principal… Quando o mundo é presenteado com os descasados, Lavoisier é lembrado novamente. “Na natureza nada se perde, nada se cria; tudo se transforma”. Um casal que se separa equivale a duas possibilidades a mais na sociedade para pessoas que estejam solitárias e carentes. Aquela velha lamentação de que os bons partidos (mulheres e homens) estão todos casados está mudando, assim como um dia a conexão foi discada e hoje é banda larga. Os descasados estão voltando ao mercado. Livres, leves, uns mais soltos, outros nem tanto. Os descasados são mais experientes, vividos e já descobriram o segredo das páginas seguintes dos contos de fadas. Eles viveram felizes para sempre? Uma cortina se abre e ao longe vemos mulheres com bobbies e homens com barrigas de chopp. Sim, eles sabem segredos. Os descasados estão prontos para voltar ao mercado, fazer a alegria dos desiludidos e atestar que em dias como hoje a reciclagem atinge a todos! O casado de ontem, descasado hoje é a possibilidade de amanhã! Buffets, imobiliárias, estamos de volta!
Os Descasados